Procedimentos Pré-Restauradores: A Importância do Selamento Imediato Pós-Endodôntico.


A estratégia para restaurar um dente tratado endodonticamente é muito discutida entre os cirurgiões-dentistas e pela literatura científica, entretanto, a melhor abordagem para se realizar este procedimento ainda gera muitas controvérsias. Frente à evolução dos conceitos, materiais e técnicas nas áreas de Endodontia, Prótese e Estética, tornando as reabilitações cada vez mais previsíveis, o preenchimento da cavidade de acesso endodôntico (procedimento pré-restaurador) passou a receber especial atenção, preparando o dente tratado endodonticamente para receber a restauração, visto que o sucesso do tratamento restaurador pode ser influenciado pelas diversas etapas da terapia endodôntica.
Da mesma forma que o sucesso da restauração depende da endodontia, o efetivo selamento coronário é essencial para que se obtenha êxito na terapia endodôntica. Diversos problemas estão relacionados com a deficiência no selamento coronário pós-endodôntico que comprometem o sucesso do tratamento, dentre eles pode-se citar a reinfecção do sistema de canais radiculares e a ocorrência de trincas e/ou fraturas que podem condenar o dente à extração (Figura 1).
Entre os materiais restauradores utilizados para a realização do selamento coronário ao final da endodontia, aqueles que possuem características adesivas são os mais indicados, pois promovem a formação de uma estrutura denominada monobloco. Esta estrutura é composta pela dentina, sistema adesivo e materiais resinosos, reforçados ou não por pinos de fibra de vidro, que fortalece o remanescente dental debilitado por processos cariosos, fraturas ou desgastes, e devolve a resistência necessária para suportar a instalação de uma prótese.
Para possibilitar a formação do monobloco, se faz necessária a qualificação da dentina intrarradicular e da câmara pulpar, através da completa remoção da dentina afetada pelas substâncias químicas auxiliares, restos de cimento obturador, cones de guta percha e irregularidades das paredes dentinárias, preparando esta região para a hibridização com os sistemas adesivos.
Além da qualificação dentinária, é indispensável que esta etapa envolva a realização dos seguintes procedimentos pré-restauradores:
* Reforço de raízes com paredes debilitadas;
* Preparo de espaço para retentor intrarradicular;
* Instalação de pino de fibra de vidro reforçado com resina composta (Figura 2);
* Confecção de núcleo de preenchimento em resina composta;
* Confecção e cimentação de núcleo metálico fundido;
* Confecção de coroa provisória com ou sem retenção intrarradicular.
Estes procedimentos devem ser realizados pelo endodontista, imediatamente após o tratamento endodôntico, desta maneira, outras vantagens podem ser ressaltadas, tais como o conhecimento pelo operador da anatomia do sistema de canais radiculares, que minimiza acidentes decorrentes do preparo para instalação de retentores, realização sob isolamento absoluto e a redução do custo e tempo para confecção do conjunto pino/núcleo de preenchimento, devido à eliminação de fases laboratoriais.
A qualificação do profissional que realizará estes procedimentos é imprescindível, pois a negligência em qualquer etapa pode comprometer o resultado final. Contudo, não basta apenas o conhecimento dos materiais e técnicas de aplicação, sendo necessário o aprofundamento do conhecimento da anatomia dental e dos fatores biomecânicos envolvidos nos preparos intrarradiculares e coronários, para que se obtenha distribuição equilibrada das forças mastigatórias sobre os dentes restaurados.
A interação entre os profissionais envolvidos na reabilitação é fundamental, pois possibilita que o responsável pela etapa endodôntica participe do processo de restauração dental, desenvolvendo papel ativo desde o planejamento até o preparo para o procedimento restaurador final, ou seja, realizando não somente os tratamentos endodônticos, mas também as etapas pré-restauradoras, contribuindo sobremaneira para aumentar a previsibilidade de sucesso dos tratamentos realizados.